Chuvas de monções prolongadas proporcionam boa produção de açúcar na Ásia; preços sentem
Uma perspectiva de melhoria da oferta global de açúcar pesou nos últimos meses sobre os preços do açúcar. Além de uma recuperação da safra brasileira após um período seco e os episódios de incêndio em 2024, boas previsões para a oferta asiática do adoçante pressionam as cotações no mercado internacional, conforme destacam analistas.
De acordo com informações de Lívea Coda, coordenadora de inteligência de mercado de açúcar na Hedgepoint Global Markets, a consultoria espera que a Índia produza próximo de 31 milhões de toneladas de açúcar. “Note que este número está acima da média do mercado, que aponta cerca de 28 milhões de toneladas”. afirma.
“A Índia reportou menor área, doenças e atrasos, entretanto o período de chuva foi favorável e a queda de produção anual registrada até o momento parece um resultado direto de um início de moagem tardio. Porém, se faz necessário manter um monitoramento do país, já que a decisão de exportação pode afetar os preços internacionais”, acrescenta Coda.
A Indian Sugar and Bio-energy Manufacturers Association (ISM) relatou em 9 de janeiro que a produção de açúcar da Índia em 2024/25 de 1º de outubro a 31 de dezembro caiu 15,5%, para 9,54 milhões de toneladas, na comparação com o mesmo período do ano anterior. A ISM projeta que a produção de açúcar da Índia em 2024/25 cairá 13,8% neste ano, para 27,6 milhões de toneladas.
Para Maurucio Muruci, analista de açúcar de açúcar e etanol da Safras & Mercado, a produção da Índia tem chances de chegar a 36 milhões de toneladas de açúcar. Segundo ele, a moagem menor no final do último ano ocorreu principalmente por conta do prolongamento das chuvas de monções. Entretando, as chuvas estendidas por mais tempo são benéficas para o desenvolvimento da safra, o que deve resultar em um aumento de produção até o final da temporada.
“A Ásia como um todo com excesso produtivo por conta das monções do ano passado que se prolongaram no término. Se estenderam por 30 dias a mais. Era para ter terminado em setembro, mas acabou em outubro. Quase a mesma coisa aconteceu no Brasil, só que ao contrário, as chuvas começaram com 30 dias de antecedência. Na Ásia, elas terminaram com 30 dias de atraso”, diz o analista.
EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR PELA ÍNDIA
O governo indiano irá permitir novamente as exportações. No início desta semana, a Reuters informou que o país permitiu a exportação de 1 milhão de toneladas de açúcar durante a atual temporada até setembro de 2025, com informações do ministro indiano da alimentação.
Segundo a agência, as exportações ocorrem para ajudar as usinas a exportarem os estoques excedentes do segundo maior produtor mundial do adoçante e ajudar a sustentar os preços locais. De acordo com o o que destaca o Barchart, a Índia restringiu as exportações de açúcar desde outubro de 2023 para manter suprimentos domésticos adequados. Na temporada 2022/23 já houve uma limitação de 6,1 milhões de toneladas, após um recorde nos embarques de 11,1 milhões de toneladas na temporada anterior.
Lívea Coda afirma que as recentes notícias de possível exportação de 1 milhão de toneladas pela Índia sugerem que o país deva ter mais disponibilidade do que o discutido pelo mercado. Conforme ela aponta, sabe-se que o programa de etanol segue sendo uma prioridade para o país, tendo em vista reduzir sua dependência energética da importação de derivados de petróleo.
Por isso, com um consumo interno estimado em cerca de 29 milhões de toneladas, o número de produção de 28 milhões sugere que seria utilizado parte dos estoques para exportação, entretanto esse cenário parece improvável e, por isso, a consultoria mantém o número de 31 milhões de toneladas. No entanto, segundo Coda, doenças, atrasos e redução de área são um risco relevante, que agem do lado de uma produção menor.
Segundo Maurício Muruci, a quantidade 1 milhão de toneladas que deve ser exportada pela Índia é apenas uma leva de embarques e não para a temporada inteira. Para ele, esse número pode ser ainda maior, desde que a safra indiana respeite duas condições.
A primeira é que a produção de etanol seja cumprida dentro das metas e que haja um serávit entre a oferta e demanda de pelo menos 1 milhão de toneladas. “Esse 1 milhão de toneladas de saldo superavitário é barbada, porque os dados do USDA mostram que a relação de oferta e demanda da Índia está com superávit de 3,5 milhões de toneladas”, revela o analista
E segundo ponto é que a produção do etanol da Índia esteja dentro das expectativas, o que está acontecendo. “Além de ter uma quantidade cana muito grande no país, acima de 120 milhões de toneladas, para nós aqui é pouco, mas para eles lá é muito, a fronteira produtiva do etanol já não está mais na cana, está nos grãos. Então, o que não falta é matéria-prima para a produção de etanol”, explica Muruci.
Dessa maneira, de acordo com ele, cumpridas as duas condicionalidades que o governo da Índia impõe, a Índia muito provavelmente vai exportar, por baixo, 1 milhão de toneladas. Porém, a expectativa da consultoria é de que os embarques totais do país na safra atual, 2024/25, seja de 3,5 milhões de toneladas, com tem margem para chegar em 4 milhões de toneladas.
PRODUÇÃO TAILANDESA E SUSPENSÃO DE IMPORTAÇÕES DA A CHINA
Para a Tailândia, segundo Lívea Coda, o país segue em recuperação. “Comparando os primeiros 20 dias de moagem, o país aumentou sua produção de açúcar em 6%, além de iniciar a temporada 4 dias antes, em comparação com 23/24. Até o momento, o país alcançou quase 1,4 milhão de toneladas de açúcar, um número comparável ao da temporada 2022/23. “Nossas expectativas atuais são de 11 milhões de toneladas de produção de açúcar, permitindo que o país exporte cerca de 7,8 milhões de toneladas durante a temporada 24/25”, diz a analista.
Com um número bastante próximo, Muruci projeta para a Tailândia em torno de 10 milhões de toneladas de açúcar. “Não bateu nos 14 milhões de toneladas, recorde em torno de cinco anos atrás, mas já é uma recuperação boa”, afirma.
Entretanto, outro fator que o analista ressalta é que a Tailândia está com sobra de exportação, pois a China proibiu a importação de açúcar em pó, que é misturado a vários tipos de alimentos, e açúcar líquido.
Como ele explica, o governo da China proibiu que as indústrias de alimentos importassem esses dois tipos de açúcar da Tailândia por condições de higiene. Assim, há vários carregamentos que iriam para a nação chinesa, na faixa de 1,4 milhão de toneladas desses dois tipos de açúcar.
A argumentação do mercado é que esse 1,4 milhão de toneladas de açúcar que está retido no porto está tendo uma sobra de açúcar retido, e esse açúcar seria direcionado para outros mercados, porém Muruci confronta esse entendimento do mercado.
Primeiro, de acordo com o analista, esse açúcar não é o VHP, que é 90% do que é negociado no mercado internacional como um todo. Em segundo lugar, ele afirma que esse açúcar já está contratado pelas indústrias chinesas para consumo lá. O que aconteceu foi que a China proibiu os embarques continuarem, mas já está contratado.
“Não está sobrando disponível para o mercado internacional. Até porque todo o governo da Tailândia, a delegação da Tailândia, todos os setores envolvidos na Tailândia, já estão trabalhando para que as fábricas se adequem às normas da China, para que esses carregamentos serem liberados”, explica. “Então esse primeiro argumento que o mercado está falando, esse argumento de que estaria sobrando açúcar, 1,14 milhão de planadas da Tailândia, ele não está sobrando, ele está contratado, ele está comprado, ele só não foi despachado”, conclui Muruci.
AUMENTO DE PRODUÇÃO CHINESA INDICA MENOR NECESSIDADE DE EXPORTAÇÃO
Em relação à China, Mauricio Muruci diz que a produção no país deve passar de 9,8 para 11 milhões de toneladas. “Ela nunca passava de 10 milhões, não existia chance nos últimos 15 anos da China passar de 10 milhões de toneladas, ela chegava até 9,5 milhões, 9,8 milhões, 9,9 milhões e parava ali. Agora não, esta safra é 11 milhões de toneladas. E a China, quanto mais ela produz, menos ela importa. Aí é pressão de queda nos preços pela redução na demanda do açúcar”, afirma o analista.
Lívea Coda destaca que a China atingiu a marca de 4,4 milhões de toneldas produzidas até o final de dezembro, um aumento anual de 37%. “Esse ritmo saudável sugere que podemos manter nossa previsão de 11 milhões de toneladas para a safra, reduzindo marginalmente a dependência do país do mercado internacional, o que já tem refletido em um volume de importação menor que em 2023/24”, aponta.
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